No mandato seguinte, quando eu pensava que iria exatamente ficar com o mesmo pelouro – o meu filho ia receber o doutoramento em Londres no dia seguinte – e eu chego à reunião e o Dr. Isaltino vai dando os pelouros a todos e não me dá a mim e eu metia-me muito com o meu colega que tinha os cemitérios… e o Dr. Isaltino começa a olhar para mim, com aquela cara que vocês conhecem – nós damo-nos muito bem, temos muito em comum, gostamos muito do concelho – e diz: “Para si tem de ser uma luta! Sabe o que é que eu lhe vou dar? O ambiente e os resíduos sólidos! “ Eu fiquei quase em transe…. O que é que eu sabia dos lixos? Quase nada! Ainda por cima ele dizia-me que estávamos com um projecto novo, da recolha selectiva… Mas correu muitíssimo bem. Ganhámos o Prémio do Ambiente, ganhámos muitos pontos em Bruxelas. Quando eu fui à primeira reunião nós éramos considerados incapazes de gerir o nosso lixo…porque não púnhamos nada para reciclar. Tínhamos umas taxas de reciclagem mínimas!
Tivemos de escolher um sítio e fomos para Queijas. E como sempre tive a visão de que quem nos pode trazer o conhecimento são as universidades e, por isso, temos de trabalhar com as universidades… Foram eles que fizeram o levantamento…. Trabalhámos com técnicos, com engenheiros do ambiente e realmente tudo aquilo correu bem.
Foram três anos de trabalho em que eu andava a apanhar lixo às quatro da manhã. Sem nós fazermos o trabalho nós não sabemos quanto é que ele custa. E quando a pessoa vem ter connosco se nós não sabemos qual, como é que é o trabalho dela nós não podemos compreender… Eu ia apanhar o lixo às quatro da manhã com eles e já conhecia aquilo tudo… E se há pessoas que me merecem consideração são eles… Aquelas camionetas que têm uma mola… quando nós anonimamente pomos dentro do contentor, esquecemo-nos que quando o saco é empurrado ele rebenta e o homem fica todo sujo, do que quer que esteja que lá esteja dentro…
Ainda hoje tenho a grande alegria de ver parar o carro do lixo à minha porta e ouvir “Vereadora! Como é que vai? Tem de vir outra vez para ao pé de nós!” Foi muito trabalhoso… dormi muito pouco durante aqueles 10 anos porque o miúdo tinha de se levantar às 8 da manhã. Pedi dispensa de horário à Gulbenkian, o que era muito difícil porque a Gulbenkian nisso é muito exigente. Entrava na Gulbenkian muito cedo para fazer o trabalho todo até às três, três e tal e quando saia da Câmara ainda ia à Gulbenkian…
Voltando à história, o meu filho estava à minha espera no aeroporto de Heatrow e a primeira pergunta que ele me fez foi: “O que é que ele te deu?” E eu respondi: Os lixos!”
Foi realmente um enorme desafio…
Aline
Câmara Municipal de Oeiras, Largo Marquês Pombal, Oeiras, Portugal