Na Rua Costa Pinto morava uma senhora ligada às artes, a Mariana Monteiro. Promovia o teatro, muito teatro ali, no Cine-teatro de Paço de Arcos… Mas como eu e a minha irmã estávamos no Colégio Interno, só íamos nas férias. Uma vez fomos vestidas de minhotas vender chocolates que depois revertiam para a igreja. E é essa senhora, a Mariana Monteiro que encena uma peça em que entra o Zé de Castro, que é visto pela Maria Lalande. E como eu e a minha irmã não pudemos assistir à peça, a Vanda Maria Monteiro leu para nós e outras pessoas fazendo as vozes. Era uma pessoa muito característica. Diziam que o marido era da PIDE mas sempre nos disse ‘bom dia’ e ‘boa tarde’ e nós eramos miúdos e nunca ligámos. Um dos filhos dela foi um que morreu no Alto da Boa Viagem, no túnel e ele fazia manobras e ia a correr em sentido contrário e veio outro carro e ele morreu. Nós vivíamos muito estas coisas. Chorávamos muito com estes problemas todos. Tanto que quando o Nini, que era o irmão dele caiu em cima da Baforeira também foi uma choradeira durante uma data de tempo…. Porque ele foi fazer danças com o avião para uma namorada, em cima da Baforeira…
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A escola também era muito boa. A dona Isaura, a directora, vivia lá e o Senhor Lacerda também. A filha do senhor Lacerda tocava maravilhosamente piano.
Havia mais dois chalés junto à Marginal, um deles era da Pilarinho, com quem a gente brincava. E a praia… atravessávamos a qualquer hora a Marginal e íamos muito à praia. A praia tinha aquele pontão onde nós brincávamos e havia um banheiro muito engraçado que levava os miúdos todos até ao paredão e depois vinha. Punha-se de joelhos e cantava assim: ‘Pelo sinal da mão do galo, comi toucinho não me fez mal. Se mais houvesse mais comia. Adeus senhor padre, até outro dia!’ Nós chegávamos a casa e repetíamos e a minha mãe ficava com os cabelos em pé! Mais tarde, talvez em 46, 47 abre-se a Praia Nova. A Praia Nova tem uma escadaria que está enterrada. Era uma praia muito fundo e, portanto, muito abrigada. Tinha 3 banheiros. A senhora Juliana, que era muito simpática e nos deixava estar debaixo de um toldo sem pagar, era um outro senhor gordo que não me lembro como é que se chamava e era o senhor Lopes – que já estava perto de Santo Amaro de Oeiras e as pessoas – não havia a Escola Náutica, não havia o Bairro JPimenta – as pessoas que moravam mais para o lado poente vinham por ali, atravessavam a Marginal e iam para o senhor Lopes. Onde está agora o mercado era um campo de futebol. Uma vez apareceu um homem que dizia que tinha poderes e foi acolhido por umas madeirenses. Estava sempre doente, deitado na cama. Depois lá se descobriu que era tudo aldrabice… No campo de futebol feito pelo Joaquim Matias foi feito o mercado, toda aquela correnteza de casas à volta e dizem que o Joaquim Matias deu casas daquelas aos jogadores de hóquei em patins, ao Jesus Correia, ao Correia dos Santos, ao Manel. Fez a escola. Para ele a educação, a seguir ao pão, era a coisa mais importante. A escola electro-mecânica melhorou muito. Fez-se a escola naval e o JPimenta começou a crescer que foi uma coisa doida…
E depois foi feito aquele bairro no Espargal para alojar pessoas que estavam naquelas casinhas…
O Sr. Brás da farmácia dava-nos a pomada em caixinhas e quando estávamos mal dispostos dava-nos uns papelinhos que púnhamos na água quando chegávamos a casa e ficávamos logo bem…
Também íamos apanhar urtigas em cima da linha… Na estação de Paço de Arcos havia uma ponte para o outro lado – que já não há… Nessa altura a ponte já tinha muitos buracos mas nós, ai com 17 anos, passávamos para o outro lado… Era um disparate pegado…
Avenida Marginal, Paço de Arcos, Portugal