O Bairro Perde o Dinamismo

“Quando tínhamos uma percentagem de crianças e principalmente de jovens – que é a idade da inovação, os 15, os 20, os 25, 30 – a idade em nós estamos mais activos a todos os níveis, Algés tinha maior importância em termos culturais do que a envolvência, do que a Ajuda ou Belém, o Restelo, mesmo Linda-a-Velha, Carnaxide eram regiões mais pobres em termos culturais. Algés tinha outro dinamismo. Havia toda uma pulsão que eu tive a sorte de viver intensamente… Hoje os miúdos vão para a rua com 35 anos (risos) e eu tive a sorte de ir com 5, 6 anos. Aos 6 anos ia para uma Praceta que havia aqui em cima. Aos 8 já andava a palmilhar toda a Algés e a jogar à bola na rua. À noite só a partir de certa idade, felizmente. Hoje moramos no 7º, 8º ou 12º andar e ele só sai à rua a partir de certa idade. Essas vivências, essas ligações são importantes. Desde cedo os miúdos experienciavam muitos aspectos da vida, mesmo cultural. E isso vai influenciar a vida destes miúdos. Eu tenho uma neta que também não vai para a rua. Também não havia uma estrutura como temos agora aqui a biblioteca. A biblioteca nasceu já eu era crescido. Havia, ali no Largo do Ribamar, onde passei parte da minha infância – o meu avô levava-me lá – está cheio de pedras agora…e havia ali uma biblioteca, uma estante da Gulbenkian. Estávamos no jardim e podíamos tirar um livro. Havia essa mini-biblioteca. Mas Algés era um espectáculo a todos os níveis. Não era só a vida cultural, era a qualidade de vida. Ainda havia praia. Ainda sou do tempo da praia, muito degradada já. A praia começou a degradar-se nos anos 30, 40. A praia começou a morrer nos anos 70. Algés era um centro. Não só para as pessoas que cá moravam mas para as que vinham. A nível de entretenimento, ao fim de semana, rivalizava com o que é hoje Belém. Tínhamos isto aqui cheio de gente.

Maria: Eu tenho saudades das farturas!

Paulo: Ainda outro dia me lembrei das farturas! Quando vou lá tomar, ao Caravela, lembro-me sempre das farturas! Todo aquele dinamismo que havia no jardim…

ENT: Quando é que isso começa a perder-se?

Paulo: Isso começa-se a perder… Algés torna-se um sítio caro. Há uma migração do centro. Por exemplo, Lisboa, se virmos o gráfico da evolução da população de Lisboa – Lisboa, cidade, de Pedrouços até aos Olivais – a cidade de Lisboa, nos anos 30 tinha 500 mil habitantes, nos anos 70 tinha 700 mil habitantes, em 81 tinha quase 900 mil habitantes, em 90 já passou para 600, 2000, 500. Hoje está com a população dos anos 30. Estamos com 500 mil habitantes e a baixar. E depois isso vai-se sentir na coroa periférica de Lisboa: Moscavide…toda a primeira cintura, a primeira coroa, de que Algés faz parte, começa também a perder dinamismo e população logo nos anos 80. Ainda ganhou uma certa cor e uma série de problemas com os bairros de lata…uma certa vida, embora problemática e felizmente que terminaram… e progressivamente a população começa a envelhecer. A média nos anos 60, 70 eram casais com 30…”

O Bairro Perde o Dinamismo

Av. Combatentes da Grande Guerra 88, Algés, Portugal

O Bairro Perde o Dinamismo Paulo Gameiro