A Avó que Não gostava do Frio

A minha avó materna chama-se Anabela, nasceu em 1963, em Luanda, cidade angolana situada à beira-mar, com clima tropical em que era quase sempre verão.
Quando terminou o liceu, teve de se mudar porque não havia universidade em Angola para continuar a estudar. Depois de se casar com o meu avô Nuno, aos 19 anos, mudou-se para Coimbra, cidade sem mar e muito fria.
Os meus avós tencionavam regressar a Angola, mas aconteceu o 25 de Abril e deu-se a descolonização. Assim a mudança provisória tornou-se permanente.
A minha avó lembra-se com saudade de estar na praia enquanto chovia – como estava calor, era muito refrescante! Lembra-se também de uma vez ter chovido tanto, tanto que a baixa da cidade acabou por ficar coberta de areia até ao primeiro andar dos prédios. Estas são algumas recordações de Luanda que estão sempre a vir-lhe à memória.
Das primeiras impressões sobre Portugal, na mudança para Coimbra, contou-me que, a princípio, teve de dormir com o sobretudo vestido. Depois, a minha avó e o meu avô resolveram ligar o aquecimento. No final do mês, a minha avó teve de pedir dinheiro emprestado ao pai dela para pagar a conta da eletricidade. A conta era tão alta que levou todo o dinheiro que os meus avós tinham para esse mês. Ainda hoje a minha avó sofre com o frio e recorda o calor da cidade em que nasceu.

A Avó que Não gostava do Frio

Escola Básica São Bruno, Rua Dona Simoa Godinho, Caxias, Portugal

A Avó que Não gostava do Frio Íris Serôdio