A Zinia e o Meu Pai

Em áudio uma história contada por Ana Paula Guimarães, filha de Alberto Guimarães, o fundador da Zínia, escrita em colaboração com Maria José Amândio.

 

“A Zínia tem vindo a acompanhar o desenvolvimento de Algés e tem sido um destino gastronómico muito interessante aqui na área da grande Lisboa. Tem sido muito representativa do comércio tradicional local, as pessoas gostam desta localização, muitas pessoas remetem para a sua antiguidade e para as memórias que ela conserva. Tem muitas ligações à comunidade de Algés.

Foi fundada pelo meu pai, Alberto Guimarães, que vinha de uma zona próxima de Vila Nova de Cerveira e era então conhecido como o Alberto das manteigas. Foi o primeiro trabalho dele. Ele tinha sempre um “ar pioneiro” e queria marcar a diferença. Abriu lojas de mercado em Algés, em Paço de Arcos e foi a 1 de março de 1962, tinha eu 7 anos, que ele criou a Zínia. O seu empreendedorismo distinguiu-se então. Foi um dos primeiros espaços, não ousamos dizer que foi o primeiro, de pronto a comer em Portugal. E foi assim, de 62 a 80, o ano em que ele faleceu, muito jovem, com 54 anos, que as instalações da Zínia foram sempre sendo alteradas, melhoradas.

A sua obra foi sempre inspirada em viagens que ele foi fazendo a diversas cidades europeias. Esta casa teve a particularidade de ter cozinha à vista. Foi uma situação ambígua, pois as pessoas gostavam da Zínia mas achavam que pareceria uma tasca se tivesse cozinha à vista. O meu pai dizia sempre que assim se comprovava a limpeza com que ali se trabalhava. Ver quem cozinha, como cozinha. Entretanto, por uma questão de mais obras, mais alargamento, a cozinha passou a ser outro espaço e houve uma evolução tecnológica, utilizando maquinaria e instrumentos mais adequados à qualidade dos serviços.

Houve depois uma tragédia, que foram as cheias de 64 (67). Vamos saltar esta etapa que foi uma etapa muito difícil para toda a família. E depois o espaço foi sendo sempre renovado. Hoje tem uma área de self service no interior. Enfim, quando o meu pai morreu a 15 de abril de 1980, foi um sentimento de perda para a família e para toda a equipa que trabalhou com ele. Deixou em todos uma marca de uma pessoa muito boa, generosa e muito humana, sempre com humor, sempre entusiasmado. Além disso foi apoiando os empregados que com ele trabalharam. O que é um sinal da sua humanidade.

A Zínia tem tido diversas gestões, pessoas que a gerem de modos diferentes, passou de cerca de dez empregados a quase trinta neste momento. A sua trabalhadora mais antiga, gosto de a nomear, é a dona Odete, que está ao serviço desde os seus 15 anos. E enfim, os cozinheiros e cozinheiras foram-se alterando. Em 2012 a Zínia celebrou 50 anos com bolo de velas, com isso tudo e hoje é considerada uma instituição histórica, quer pela postura, quer pela qualidade e toda a ligação à comunidade. E agora posso terminar com uma pergunta: Quem é que, em Algés e arredores, não conhece as suas especialidades? Desde o arroz à valenciana, aos frangos e salgados, que mesmo com o passar dos anos preservam a mesma qualidade e paladar?”

 

A Zinia e o Meu Pai

Rua Damião de Góis 58, Algés, Portugal

A Zinia e o Meu Pai Ana Paula Guimarães