Cultura de Contacto

“A Livraria Espaço era um espaço importante de encontro. A própria montra em si dava-nos… – não havia internet, não é? Havia televisão e cinema – mas a livraria dava-nos os títulos mais importantes, tanto a nível dos livros como dos próprios discos, da música. A maior parte anglo-saxónica mas não só. Também portuguesa. Música que não era 100% censurada mas era complicado ter, do Zeca Afonso e do Sérgio Godinho e não só… Mas um aspecto cultural também importante e marcante para mim foi…eu apanho o 25 de Abril com 15 anos. Também era de uma família…sempre ouvi dizer que as coisas não estavam nada bem… Era anti-salazarista, o meu pai… A minha mãe não. Era uma dona de casa. Não queria confusões. Eu lembro-me que no liceu – havia um movimento dos liceus, que apanhou o liceu de Oeiras – o liceu de Oeiras já era um bocado politizado e era um liceu em que havia um grupo grande de pessoas com outra abertura, muitos aqui de Algés mas também de outras zonas, ia toda a gente da linha até São João, até de Cascais. E o 25 de Abril foi mesmo uma altura marcante.

Já antes do 25 de Abril a vida cultural era… eu estive também ligado ao 1º Acto, ao teatro. E falou-se no outro dia do Corredor da Tamar. A Tamar era um centro…eu ainda era novo mas lembro-me das tertúlias que se faziam…juntava-se ali um grupo de pessoas, a maior parte anti-regime… Havia muito a cultura dos cafés… Não era apenas a alta cultura, era a cultura do contacto – isto que nós estamos aqui a fazer… nós estamos a fazer cultura…este contacto, com estas histórias de vida… E nos pavilhões, nos matraquilhos, no ténis de mesa. Eu aprendi aí a jogar ténis de mesa. Era um centro de convívio, quer a parte de baixo, quer a parte do meio do Ribamar, que tinha uma placa dos alunos do INEF, dos alunos que estudaram ali, que fizeram ali o seu curso, nos anos 60. Até mesmo no andar superior, que tinha uma vista lindíssima…ainda tem…

Havia 4 Pavilhões. Na minha infância desapareceu um. O 1º Pavilhão, onde está o Parque de Estacionamento era Pavilhão Cristal, que é dos mais activos culturalmente. Onde é o INA era o Catavento, o Caravela ainda lá está, o Ribamar morreu. Tudo isto eram centros de tertúlia, de convívio… O Algés e Dafundo organizava sessões de cinema e outras sessões culturais… Para além do desporto, que também é cultura…A própria liga…Uma pequena terra que tinha 3 estruturas desportivas: o Algés, a Liga, mais tarde a UDRA, mais ligada ao futebol… Também com outras actividades culturais. E depois houve desde sempre uma grande ligação a Lisboa. Quem era de Algés era de Lisboa. Estamos a 10, 15 minutos da oferta cultural que há Lisboa. Algés era, e hoje ainda mais, um bairro de Lisboa. Administrativamente não é Lisboa mas tem muito mais ligação a Lisboa do que a Oeiras. Eu tenho essa ligação a Oeiras por causa do Liceu.”

Cultura de Contacto

Alameda Hermano Patrone 1495 - 064, Algés, Portugal

Cultura de Contacto Paulo Gameiro