No frio da Docapesca

O meu primeiro trabalho é na Doca Pesca. Antes disso já tinha feito umas coisas. Ajudei, por exemplo, a desmontar uma Praça de Toiros desmontável aqui em Algés. Na Doca Pesca ganhava 240 escudos por dia… Era muito bom. Quando entrei na Câmara, em 77 ganhava 6 contos por mês… Eu estava no peixe congelado. Tanto estava ao sol como estava a 31 negativos. Um episódio engraçado que me aconteceu… Eu e mais um colega que estava lá a trabalhar comigo, fomos almoçar à cantina que era muito boa. Nesse dia o almoço foi feijoada, tudo muito bem… E o trabalho nas câmaras era assim: ia-se trabalhar uma hora para dentro da câmara, vinha-se meia hora cá para fora para equilibrar. Mas nós, como éramos contratados ao dia, se trabalhávamos bem tudo bem para o dia seguinte, se falhássemos no dia seguinte não havia trabalho. E então portávamo-nos muito bem. Entretanto mandam-nos montar lotes de pescada, fazer paletes… Passou-se meia hora, 45 minutos, 1 hora…Entretanto começámos a fazer a digestão, começámos a tirar a roupa por            que já era calor a mais… Entretanto, para não arrefecermos tínhamos que dar rendimento, para a aquecer…Passou-se hora e meia, duas horas e duas horas e meia depois.. Eh pá, não dá mais…Então saímos da câmara…Sai aquela fumarada toda cá para fora e o encarregado olha p’rá gente, toda a gente a olhar e eu e meu colega saímos a transpirar, roupa na mão e tronco nu e o bigode todo esticado… E pronto, já não fizemos mais nada o resto da tarde, mandaram-nos ir descansar… Quem trabalhava na altura na Docapesca ainda se deve lembrar disto…

No frio da Docapesca

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No frio da Docapesca Aurélio Figueiredo