Paço D’Arcos Anos 40

Em 42 não havia farmácia nem médico em Caxias… Mas havia uma coisa muito boa que era o Mónaco. Não se chamava Mónaco. Era uma casa que estava quase em ruínas como está agora mas via-se o mar… E para o meu pai e a minha mãe, que tinham vivido em Cascais, abrir uma janela e ver-se o mar… E fomos ver a casa. Estava muito velha mas eles já estavam quase convencidos a fazer obras. O meu avô era médico e o meu pai tinha andado a estudar para medicina e apercebeu-se que em Caxias não havia médico nem farmácia e então não quis ficar ali. Metem-nos no comboio fomos para Paço de Arcos. Aí já havia 2 médicos e 2 farmácias, a do senhor Brás e outra que nãp me lembro o nome, que era a a caminho da estação. Alugámos lá uma casa e lá ficámos até eu casar. Estávamos na rua Costa Pinto mas atravessávamos a rua, com 9, 10 anos e íamos para o jardim brincar. O Jardim de Paço de Arcos era uma maravilha, até porque havia lá um quiosque e muito pouco tempo depois foi para lá o Lima. Era uma família que explorou o quiosque de uma maneira extraordinária e era onde nós deixávamos os recados: “Ó Sr. Lima, a minha quer-me às 2 e meia, se faz favor!” E à Hora certa. “Menina! São 2 e meia! Vá para casa!”

Depois o quiosque fechou e construíram o café que lá está. Mais moderno. Era óptimo. Os Lima abriram depois uma pastelaria no caminho para a estação, junto à Rua Patrão Lopes. Naquela altura ainda estava muito vivo na memória das pessoas o Patrão Lopes. Era uma figura importantíssima para toda a gente ali. Só mais tarde vim a saber que ele não era de Paço de Arcos. Ainda lá estava o filho, o senhor Lopes que tinha as barracas na praia. Primeiro na Praia Velha (que não se chamava ainda Praia Velha)… Era uma zona muito bonita, com  a escola primária. De um lado, o senhor Lacerda tomava conta dos rapazes, do outro a dona Isaura tomava conta das raparigas.

O meu pai morre depois em 1944, em Cabo Verde, na Ilha do Sal. Foi para lá mobilizado e segundo dizem não havia ainda a penicilina nem as sulfamidas nem nada… e ele apanhou uma infecção e morreu. E nós ficámos naquela casa, a minha mãe com 3 filhos. A casa era mesmo em frente ao Beavaleau. Fui lá outro dia e está fechado. Como é que é possível? Era o sítio dos cacetes, das mimosas, das delícias… Não havia ninguém que fosse a Paço d’Arcos que não fosse lá comprar um cacete para levar para casa…

Paço D’Arcos Anos 40

Rua Costa Pinto, Paço de Arcos, Portugal

Paço D’Arcos Anos 40 Clotilde Almeida Moreira