A Tamar e as lutas estudantis

Eu nunca fui muito cafezeira… Nunca passei muito tempo nos cafés. Ainda hoje não sou. Lembro-me que o Corredor da Tamar era aquela efervescência política… Era um shot político… Começava nesta mesa e acabava na outra. Parecia fogo! E para os Pavilhões vinha muita gente de Lisboa estudar e conversar. Não havia esplanadas em Lisboa e aqui era o ponto de encontro. Nós tínhamos um professor no Liceu de Oeiras que se chamava Faraó, coitado – desgraçado… – e depois vínhamos para aqui para o pavilhão de Algés corrigir os testes com ele e ele coitado…Nós trocávamos aquilo, já trazíamos um feito de casa… Coitado do homem!

Quando havia aquelas manifestações a favor do Salazar, acabavam as aulas nos liceus e mandavam os alunos para as manifestações. Como nós estávamos em Oeiras demorávamos muito tempo a chegar a Lisboa e quando chegávamos à manif já a manif tinha acabado… E era muito bom. Todas essas experiências de ir a Lisboa eram grandes festas. Depois lembro-me da crise académica de 62. Tínhamos sempre a PIDE à porta. Eu não era muito metida nessas coisa mas tinha colegas que eram. Lembro-me de um que era o João Bernardo que andava com aquele emblema da corda e um dia o reitor passou por ele e disse-lhe: “Aconselho-o a tirar esse emblema!” E o João não tirou. Passados dias o reitor passou por ele e disse-lhe: “Eu não lhe disse para tirar o emblema?” “Não, senhor Reitor, o sr. só aconselhou!” Havia pessoas que inclusivamente foram presas. Havia o Afonso de Barros, que já morreu e era muito vigiado pela PIDE… E depois havia o grupo da direita também porque havia os Saraivas e Sousas, quer dizer, aquelas famílias grandes do Estoril e de Cascais… O Capucho, que foi Presidente da Câmara de Cascais também era nosso colega. Aquela facção toda… A 1ª vez que eu vi uns blue jeans, tirando na nos filmes americanos com o Elvis Presley, foi com o João Saraiva e Sousa no Liceu de Oeiras. Havia esses dois lados. Havia uns meninos da direita mesmo, filhos de grandes  família. O Afonso Barros também era filho de altas famílias… Mas uns davam para esquerda, outros para a direita.

Não me lembro de episódios específicos… Lembro-me que a gente fugia para a praia quando havia feriados… mas tínhamos sempre o cuidado de levar a Teresa Craveiro Lopes connosco para estarmos preservados quando chegássemos ao liceu… Porque tínhamos sermão e missa cantada mas estava lá a Craveiro Lopes e a coisa já era mais branda… Antigamente corriam-se riscos… Lembro-me dos rapazes atravessarem a ponte dos comboios – e olhe que a ponte dos comboios tinha tábuas que estavam podres…

Paulo Gameiro: Eu fiz tantas vezes isso! E quando aprecia o comboio? Como é que se sobrevive à adolescência é um mistério! Principalmente há uns anos atrás…

A Tamar e as lutas estudantis

Praça 25 de Abril 1495-128, Algés, Portugal

A Tamar e as lutas estudantis Helena Abreu